A grande esperança do ser humano é encontrar a chave para a felicidade. A felicidade, e não a vida em si mesma, jáfoi definida como "um bem supremo". Para Epicuro, a busca da felicidade era uma busca pessoal. Já os pensadores modernos, consideram-na como um projeto coletivo, dependendo de planejamento. governamental, pesquisa científica, recursos econômicos. Jeremy Bentham acredita que "o bem supremo é a maior felicidade para o maior número de pessoas". Embora não discordassem de Bentham, durante os séculos XIX e XX, os países baseavam-se no tamanho de seu território, no aumento da população e no crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) --- e não na felicidade de seus cidadãos --- para avaliar seu sucesso. O objetivo não era tornar o povo feliz, mas fazer a nação mais forte. Bismark tinha como objetivo garantir a lealdade dos cidadãos e não incrementar seu bem-estar. A Declaração de Independência dos Estados Unidos garantia o direito da busca da felicidade e não o direito da felicidade.
Acontece que a situação mudou nas últimas décadas e a visão de Bentham ganhou vulto. Não estamos aqui para servir o Estado, ele é que deve nos servir. Cingapura era considerado um país bem sucedido, porque cada cidadão produzia em média, por ano, bens no valor de us$56 mil. Já a Costa Rica produzia em média us$16 mil anuais. As pessoas não querem produzir, querem se felizes. A produção é importante, mas ela constitui apenas os meios, não o fim. Se tivesse que escolher, o que preferiria: ser um cingapuriano produtivo e infeliz ou um costa-riquenho menos produtivo mas feliz? Seremos felizes se a fome e a peste desaparecerem, se a humanidade atravessar um período de paz e prosperidade, se a expectativa de vida aumentar muitíssimo. Certo? Errado.
Quando Epicuro afirmou que a felicidade era "o bem supremo", advertiu que ser feliz exige trabalho duro. Conquistas científicas, materiais etc., provocam satisfação provisória. Dinheiro, fama e prazer só tornam as pessoas infelizes. A longo prazo, uma amizade profunda provoca mais alegria do que uma orgia frenética. Epicuro percebeu que ser feliz não é nada fácil. A despeito de nossas conquistas nos últimos séculos, seríamos mais felizes que nossos ancestrais? A taxa de suicídio no mundo desenvolvido é mais alta que nas sociedades tradicionais. Quem se interessar pelo assunto, recomendo a leitura do livro de Iuval Noah Harari, HOMO DEUS, pág 38 a43. Contudo, poderíamos dizer que existem propostas encorajadoras. Odeclínio de mortalidade infantil certamente acarretou um aumento da felicidade humana. Comparativamente, o aumento de nosso bem-estar é menor do que o esperado. Mesmo que tenhamos superado muitas agruras do passado, alcançar uma felicidade afirmativa pode ser muito mais difícil do que abolir completamente o sofrimento. Um pedaço de pão alegrava um camponês entediado. Como alegrar um empresário obeso e rico? Apesar dos progressos tecnológicos do Japão, no entanto, os japoneses da década de1990 estavam tão satisfeitos --- ou insatisfeitos --- quanto estavam na década de 1950.
Como os dados desse artigo estão calcados no livro supracitado, fecho estas consideração com palavras do próprio autor: "A impressão que se tem é que nossa felicidade vai de encontro a um misterioso teto de vidro que não permite seu crescimento, a despeito das conquistas sem precedentes que foram alcançadas. Mesmo que provêssemos alimento grátis para todos, curássemos todas as doenças e assegurássemos a paz mundial, tudo isso não iria fazer em pedaços o teto de vidro. Alcançar a verdadeira felicidade não vai ser muito mais fácil do que vencer a velhice e a morte."
Dra. Maria da Glória De Rosa
Pedagoga, Jornalista, Advogada
Profª. assistente doutora aposentada da UNESP